Ali
Mesmo ali , quando os ramos brotam em continência
Contra um tecto que não existe
Que trespassam
E arranham barreiras
em viagens às Luas proibidas
que anunciam monções de seiva
e armam o solo aos pés
a erguer estátuas equestres
de peito e escape
como a mota
em último fôlego
contra o arame farpado
perdido na falsa paisagem transalpina
daquele quarto de pensão da Prata
Como o deliquente arcano
de gargalhada lacrimosa
num templo em chamas
a erguer lençois hasteados
de uma pátria clandestina
feita a dois.
Como a chapada de um Deus-Mar
A explodir na espuma
E o bafo de uma asa
Que migra
alimenta
e não desiste
Como num dia
A noite
E o dia a seguir
Num duelo necromântico
A borrifar vida
em cenas de crime
e a fazer da ruína
um jardim em cascata daninha
indomável
a tornear corrente magnética
e vícios de choque
que deflagram ninfas luminosas
a segredar as tábuas científicas
para Verne
quando conspirava um Raio Verde.
Ali, Ana
Mesmo ali
Está o nosso beijo.